Vestir histórias

   Ainda  na infância aprendi vendo minha mãe que a forma como nos vestimos reflete a forma como nos vemos  e como vemos o mundo ao nosso redor. Colorida e estilosa, minha mãe sempre me pareceu uma figura muito autêntica. Sempre usando make e batons fortes, ela causava frisson por onde passava. Meus amigos de escola adoravam pegar no meu pé, dizendo que minha mãe poderia iluminar toda o estado com a cor de seus batons. Tempos depois, a fase do lipstick em alta em qualquer lugar e momento só viria reforçar o que ter uma mãe coerente com suas vontades e gostos já havia me ensinado, ser a gente mesmo é um crime que compensa.

   Da infância a adolescência minha forma de me vestir refletia meu humor, meus desejos, minha busca por me representar. Quem nunca ouviu uma música enquanto trocava de roupa e de repente se viu  trocando do sapato à camiseta. Como nos vestimos fala muito sobre como nos encaramos em um momento, um lugar, uma viagem, um encontro.
                               
                                                                 Foto: Olhar de Artémis

   Vestir-se em sem sombra de dúvida, mas com certeza com muitas dúvidas, é uma história que dura 365 dias, prologa-se por anos, perpetua-se em décadas.  Ainda mais quando esse contexto está ligado a sua rotina criativa.


   A Entrenós Crochês faz parte da minha história com a cultura e com a moda, é uma história que começou entre as minhas bonecas e suas roupas, permaneceu na minha adolescência com recursos maternos limitados para o considerado lado B das finanças e se consagrou na universidade, período fundamental para nossa busca interior que extravasa no nosso mundo exterior.


   Dona de um baú de linhas e roupas, desejos e trejeitos, eu sempre gostei de me vestir me vestindo, me arriscando.  O que mais gosto na moda é a ideia de que você pode criar e se recriar o tempo todo, e o universo fashion cada vez mais sente-se pressionado a investir em novas referências que cada vez mais incorporam-se ao grito do "sou diferente".


   Se as formas de consumir mudam, a moda segue atrás, como um camaleão, que se mimetiza e se disfarça de pedrarias, bordados, estampas, texturas, cortes, consultando sempre à memória, pois não existe criação que se mantenha sem releituras.  Os trabalhos manuais encaixam-se aqui, afinal quem nunca teve uma roupa feita pela avó, tia-avó, mãe, madrinha, vizinha querida, passou despercebido da fantástica sensação de ter algo que é mais que uma roupa, é uma memória, uma saudade, um olhar, que é só seu, e por isso é diferente e te faz diferente.

Foto: Thalita Néri

   As roupas artesanais como peças de luxo encantam vistas atrevidas e despertam até os desatentos, por que se a moda é uma linguagem que traduz muitos traços de personalidade, o artesanato é uma história, que se compõem de linguagens gestuais e artísticas.  Por isso, a Entrenós  Crochês acredita que vestimos histórias, só nossas. 


   Nossa coluna semanal, vai trazer para você, as histórias que vestimos, acreditamos e nos divertimos. Espero, que se divirta também e se inspire, para compor suas próprias histórias.



Um comentário:

  1. Raruza parabéns e muito sucesso na sua vida ,te admiro pela linda pessoa que é por dentro e por fora .....Obrigada por tudo também .

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