sexta-feira, 27 de novembro de 2015

GRANNY SQUARE: A MEMÓRIA EM FORMA DE ROUPA

   
    Todas as histórias possuem pontos, vírgulas e reticências. Certamente, sou uma pessoa de muitas reticências. Sempre estamos nos "contando" de alguma forma e colocar pontos finais são difíceis,  quando acredita-se que o  viver é uma experiência contínua, ainda que repleto de rupturas. No fundo, somos figuras mosaicas, colchas de retalhos e de emendas.

    Na postagem de hoje, essa experiência que se dá na vida  também se traduz na moda. Os famosos quadradinhos,  a tendência do granny square, têm essa pegada criativa de brincar com as cores, com os restos de novelos, gerando uma textura interessante, lúdica e exclusiva. Afinal, cada  criador e designer vai escolher seus tons e o ângulo que cada quadradinho vai ocupar.

    O granny square tem uma relação afetiva com os restinhos de linhas e lãs, que só quem faz pode compreender.  Quem é do interior, ou, quem tem suas bisas e avós ainda vivas sabe que existem tesouros espalhados pelas casas dos nossos antepassados; da mobília às louças, dos cadernos de receita às colchas e almofadas de granny square.

    Lá, também temos o famoso quartinho de costura, a velha máquina de costurar da família, a caixinha de linhas, de agulhas e de dedais amassados, o baú velho na beirada da cama,  que não guarda nem ouro, nem prata, mas tecidos amarelados, vestidos antigos já usados, lãs e linhas de bordados. Sinas do tempo, códigos do passado, que costuram histórias, presenteiam e presentificam a memória. 

    
   As fachadas antigas da São João del-Rei  barroca foram os painéis para nossa história e para a composição dos looks dessa semana.  Eu e Eduardo Carazza divertimo-nos nos cafés, nas vielas e nos portais, que de dentro para fora nos devolviam a beleza do mundo dividido entre histórias do ontem e dos dias atuais.  O cropped de granny square de técnica ancestral foi mixado com outro queridinho do passado, o shortinho de cós alto (cintura alta), mimo da Bela Griff. Buscamos acessórios leves e despojados, que unimos à explosão de cores do cropped e ao jeans bem clarinho. 
    
   O granny square é uma paixão da minha infância,  que eu trouxe para esse ensaio. Nessa postagem, para além das lindas fotografias de Eduardo Carazza,contamos com a make da super profissional, Dani Silva.

   E você, qual  a sua história? Conte-nos sua história, envie seu look pelo email entrenoscroche@yahoo.com.br ou pela nossa fanpage Entrenós Crochês.  

   Deixe seu comentário
    Super beijo, até a próxima



Por Raruza Schiavi
jornalista e sócia da Entrenós Crochês

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A DONA DA BANCA


  
      
  Me sinto uma modelo peregrina na cidade. Como escrevi na postagem Costurando a cidade e a moda,  o espaço urbano é o palco para o desfile do cotidiano. No último sábado, 14, resolvi que iria embarcar em uma história com  mais movimento, gente e uma certa confusão deliciosa,  formada de sons, de cheiros e de gestos.

     Não precisei caminhar muito, pois no coração de São João del-Rei,  encontra-se o Mercado Municipal e lá temos todos os ingredientes fantásticos para vivenciar a diversidade dos comportamentos. Até o comportamento delirante de uma jornalista e pesquisadora de moda artesanal como eu,  que vê e sente nesses lugares a força criativa para definir o espaço da moda como qualquer espaço.


   O Mercado Municipal  me surpreendeu, como também ao meu fotógrafo e amigo de outras andanças, Eduardo Carazza. Eram cores variadas das frutas e das flores do campo, que se confundiam com os tijolos antigos das bancas e das palhas nas sacolas artesanais.  Muita gente entrava e saía, enquanto a  gente  sem muito escolher, encontrávamos os pontos ideais para nossas fotos,  desvelando assim o cenário perfeito.

   Entre o trabalho do vendedor que também me reconhecia como uma espécie de vendedora dos meus próprios sonhos, eu ia ganhando espaço,  me transformando também em "Dona da Banca".  Perdi a conta de quantas frutas e verduras eu  toquei, escolhi e me deliciei.



   Em meio à generosidade das pessoas que trabalham no mercado, um e outro me parava para perguntar sobre o trabalho e sobre as roupas. O que me fez lembrar da generosidade inicial para a produção da postagem desta semana da coluna Vestir Histórias.



   A  saia diva afro deste look foi ideia de Roberta Pinto, proprietária da Bela Griff. Conversamos para escolher essa peça sobre os ares que abraçam a semana da Consciência Negra e da importância de referências culturais tão nossas, já  resgatadas pelas tendências de moda deste primavera-verão.  Da Entrenós Crochês, eu peguei o cropped de rendas em abacaxis circulares, que é fresco e bem sensual e pode ser usado com um top nude como o da foto, ou, também de cor.  Ele pode ser encontrado no nosso espaço  na loja virtual Elo-7, ou, em nosso ateliê.

   E a boca vermelha e os olhos pretos foram propositais, afinal entre o muito das cores do mercado e das minhas roupas, achei que faltaria se não tivesse cores também no meu olhar e no meu sorriso. Trabalho lindo e de uma pessoa com mãos muito sensíveis e delicadas, a maquiadora, DaniSilva, que estrelou nosso primeiro vídeo de making-off do blog.  O primeiro de muitos. 

  Segredo contado, então, agora quero saber,  e você? Em que histórias embarca?

Conte sua história pelo nosso email entrenoscroche@yahoo.com.br, faça seus comentários aqui ou na nossa fanpage  e ajude-nos a divulgar outros outros looks e outras ideias sobre comportamento e moda.

Até o próximo post, super beijo!

Raruza Schiavi

jornalista e sócia da Entrenós Crochês

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

COSTURANDO A CIDADE E A MODA

                                                                                                                       
      Existe uma relação natural entre a cidade e a moda. A palavra passarela, temida e consagrada pelos termos da moda, tem sua raiz em um ato simplesmente humano: O ato de passar. E ao passar por algo, por alguém ou por algum lugar, imprimimos uma marca tímida ou impactante, que resgata um, dois olhares, às vezes, até o nosso próprio olhar. 

      Nas impressões que tiramos dessa experiência com o espaço, ou, das impressões que causamos nele, vamos transformando a cidade. Já percebeu quando estamos em uma rua e conseguimos identificar quem é morador e frequentador dos seus estabelecimentos, restaurantes e bares pelo seu estilo e pelo seu dress code, pela sua intimidade com certas esquinas e com certas figuras?

     
    Se  sim, compreende como eu,  que modelamos a cidade e somos modelos dela também. A cidade é a passarela autêntica do meu e do seu comportamento e ela desenvolve-se de uma maneira tão democrática, que não podemos excluir nenhuma das suas formas de expressão.

    Nessa primeira postagem da coluna Vestir Histórias, desfilei com meu amigo e fotógrafo, Lucas Silveira, pelos jardins das igrejas de Nossa Senhora das Mercês e de São Francisco de Assis, em São João del-Rei. Encontramos por lá a suavidade desses espaços, mas também a grandiosidade de seus portões. Esbarramos também com turistas, apreciadores de detalhes e da beleza de nosso patrimônio cultural, que sem constrangimento paravam nosso ensaio para pedir que também fizéssemos fotos de suas aventuras forasteiras.

       E essa composição, que unia arquitetura e gente, ajudou-nos a compor o meu próprio look desta semana.  Eu amo cores fortes e não acredito que exista uma cor mestra, por isso mesmo em uma primavera de temperaturas alucinadas, apostei em num vestido de crochê berinjela, de rendas desenhadas em abacaxis desencontrados. Um estilo bem bonequinha, que marca a cintura e realça  os quadris.

 Me divirto muito com acessórios e escolhi um cinto azul turquesa encontrado em feiras e lojas árabes de qualidade  e pulseiras largas de madeira e pedras azuis mais escuras. No cabelo, peguei aquele lenço que serve para tudo, echarpe,  composição de moda praia e cinto, e o transformei em hadeband. Também, levei comigo um chapéu floppy de pegada urbana, mas que nos tons nudes, dá suavidade e devolve uma feminilidade elegante. O bolsão de palha foi proposital, guardei todos os acessórios realmente dentro dele, mas poderia ser trocado por uma carteira de palha ou de tecido leve. Enfim, eu gostei de tudo: da manhã, dos turistas, da serenidade do Lucas Silveira.

   A Entrenós Crochês e eu não temos pretensão de ensinar as pessoas o que elas devem vestir e como devem se vestir. Contamos histórias a partir do que criamos e vestimos. 


    Gostaria de saber, qual é a sua história?


Deixe seu comentário aqui do blog,  ou envie seu look ou história pelo email entrenoscroche@yahoo.com.br ou pela nossa fanpage Entrenós Crochês.

  

     Por Raruza Schiavi
 jornalista e sócia da Entrenós Crochês